Gay e pai adotivo, apresentador critica governo italiano por proibir casais homoafetivos de registar crianças em Milão

Benjamin Cano relembra, também, falas preconceituosas de Domenico Dolce e Stefano Gabbana e reforça que o importante é que as crianças sejam amadas

Em 2015, a dupla Domenico Dolce e Stefano Gabbana disseram, em uma entrevista, serem contra a adoção por pais homossexuais. E agora em 2023, no dia 13 de março, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, ordenou que o conselho municipal de Milão não registrasse mais crianças adotadas por casais homoafetivos. Reacendendo o debate sobre retrocesso e, também, sobre a importância da adoção.

“A única família é a tradicional. Chega de filhos de química e úteros alugados. A vida tem um fluxo natural, e há certas coisas que não devem ser mudadas. Você nasce de uma mãe e um pai – ou, pelo menos, é como deveria ser. Eu chamo de crianças da química ou crianças sintéticas. Úteros alugados, sêmens escolhidos em um castigo”, foi a declaração feita pelos estilistas, há 8 anos.

Logo após diversas falas polêmicas da dupla invadirem as redes sociais, começou-se um boicote massivo contra a marca D&G. Apesar de compreender que a fala deles é homofóbica, Benjamin Cano, entrevistador francês, que está dentro da comunidade LGBT, desabafa: “Sou contra o boicote porque isso demonstra muita importância para eles, mas mesmo assim, faz muitos anos que não compro nada deles.”
E, para o apresentador, a visão de ‘família tradicional’ é mais do que ultrapassada. “Existem tantos vieses de família. Mãe e pai solteiros, dois pais, duas mães e até mesmo avós que assumiram a guarda”, conta. Apesar da ordem da primeira-ministra italiana, o prefeito  de Milão, Giuseppe Sala, prometeu continuar lutando para reverter essa situação, que além de extremamente preconceituosa, pode e vai prejudicar muitas crianças e adolescentes que esperam ser adotados e ter uma família.

E se o processo de adoção já não fosse complicado o bastante, agora essas famílias passarão por questões ainda maiores, já que, de acordo com Giuseppe Sala, esses pais só teriam esse reconhecimento legal caso houvesse a aprovação explícita de um tribunal para essa adoção.

Casado há quase 23 anos, Benjamin tem dois filhos adotados e diz que os preconceitos perpassam apenas a realidade do casamento homossexual, como indicado pelos estilistas e pela primeira-ministra. “Espero que os meus filhos não tenham que encarar o racismo e a xenofobia também. Quero dar muita segurança para eles lutarem”, complementa.

Aliás é importante lembrar que toda criança que foi abandonada veio de uma “família tradicional”. “O objetivo da sociedade hoje deveria ser ter uma meta de zero crianças desabrigadas. Estou, inclusive, trabalhando em cima da criação de uma instituição que fale sobre adoção, abrigos, etc”, finaliza o apresentador.

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