BRASA (inacabado manifesto) questiona injustiças culturais na história de artistas mulheres

Em performance online com fragmentos de discursos pessoais e dramatúrgicos, elenco busca rememorar temas como feminilidade, sensibilidade e afeição

A influência do feminino nos intérpretes e como está se apresenta hoje, em cada um, em quaisquer esferas de suas vidas, se entrelaçam no jogo da representação em performance audiovisual e experimento teatral BRASA (inacabado manifesto). Com narrativas argumentativas construídas no formato de criação coletiva e canções autorais de Jade Faria, o elenco se apresenta usando a palavra e o corpo como discurso, referenciando gêneros textuais como o manifesto e com inspirações estéticas advindas da body art, da performance e do happening.

Com uma dramaturgia organizada por Giuliana Dall’Stella, com fragmentos escritos pelo elenco e inserções de textos previamente abordados no formato de grupo de estudos, a perspectiva feminina se amplia. Em ação, seis atrizes e um ator se colocam como intérpretes-criadores de suas próprias narrativas, encorajando o espectador a questionar as injustiças culturais e a dar mais visibilidade às mulheres, artistas ou não, que abriram – e abrem – espaços para esta incessante caminhada.

Seguindo ainda a estética da arte feminista consolidada em 1971 a partir de ensaio de Linda Nochlin, intitulado “Por que não houve grandes mulheres artistas?”, a performance BRASA (inacabado manifesto) busca também refazer o caminho trilhado por estas artistas, valendo-se de materiais historicamente associados à mulher, como por exemplo, os tecidos; bem como algumas mídias, também historicamente, menos utilizadas pelos homens, como vídeos. Neste ponto, a performance mescla encenação realizada com o elenco no mesmo espaço físico com registros feitos pelos próprios artistas em espaços distintos, como os lares que habitam.

Processo de criação

Século XXI. Ano de 2020. Por necessidades que se sobrepõem aos nossos desejos – uma pandemia a qual não requer mais explicações – o isolamento nos foi imposto, sobretudo aos que puderam cumpri-lo, num ato de cuidado ao se distanciar do outro. Em meio a esse momento, a atriz e diretora Victoria Ariante iniciou diálogos que pudessem fomentar as artes cênicas e percebeu que suas pesquisas se inclinavam para temas que relacionavam o teatro e a mulher. Surgiu, então, o Grupo de Estudos e Leituras: Mulheres do Teatro.

Inicialmente, por meio de quatro encontros online, o estudo propôs um panorama do feminino na linguagem teatral desde a considerada primeira dramaturgia feita por uma mulher, transitando por relevantes acontecimentos como o movimento Restoration, em 1660, a dramaturgia na Europa a partir do século XVII e a atuação na Broadway a partir do século XIX. E, para complementar a teoria, houve a leitura de textos dramáticos resultantes dessa trajetória de ocupação da potência feminina, desde a francesa Marguerite Duras às brasileiras Leilah Assumpção e Consuelo de Castro, entre muitas outras.

O grupo optou por seguir os estudos e mergulhou ainda mais profundo no segundo ciclo, que se sucedeu com mais quatro encontros com enfoque no potencial feminino em outras funções para além da dramaturgia. Nesse sentido, foram abordadas bibliografias de mulheres como Susan Sontag, Virginia Woolf, Elza Cunha de Vincenzo, Hilda Hilst, Simone de Beauvoir, Hélène Cixous, Ariane Mnouchkine e do grupo Monstrous Regiment.

O fim do segundo ciclo do Grupo de Estudos e Leituras: Mulheres do Teatro atrelado à postergada reabertura dos teatros gerou, no coletivo ali constituído, o desejo de partilhar, artisticamente, o conteúdo apreendido, bem como pesquisar, de modo cênico, o que havia sido estudado até então por meio de textos. Unido no processo de criação, em 12 encontros realizados virtualmente, o elenco refez a pesquisa realizada anteriormente, dando luz naquilo em que mais se identificava e propondo encontrar, em suas memórias, temas como feminilidade, sensibilidade e afeição, e como tais elementos se colocam na contemporaneidade.

Assim, o desejo do grupo é de reconhecer aquelas e aqueles que vieram antes de nós para dar voz àquelas e àqueles que virão, sendo, nós mesmos, atravessados em nosso tempo, agora. Um inacabado manifesto, em BRASA.

Ficha Técnica

BRASA (inacabado manifesto)

Idealização e Direção: Victoria Ariante.

Assistência de Direção: Jade Faria.

Dramaturgia: Giuliana Dall’Stella.

Direção Musical e Canções Originais: Jade Faria.

Direção de Movimento: Larissa Noel.

Produção: Letícia Reis.

Assistência de Produção: Raphael Mota.

Elenco: Giuliana Dall´Stella, Jade Faria, Julianna Bettim, Karol Rodrigues, Larissa Noel, Mariana Neris, Raphael Mota.

Figurino e Visagismo: Mariana Neris e Karol Rodrigues.

Design de Luz e Direção de Fotografia: Diego Rodda.

Audiovisual: Studioum & VCL Prods.

Identidade Vidual: Julianna Bettim.

Redes Sociais: Julianna Bettim e Raphael Mota.

Assessoria de Imprensa: Unicórnio Assessoria e Mídia.

Fotografias: Álefe Ouriques

Apoio: Casa De Artes Operária, Studioum e VCL Prods.

Serviço:

BRASA (inacabado manifesto)

Dias 11, 12 e 13 de dezembro de 2020, às 20h.

O valor do ingresso é colaborativo e varia entre R$10,00, R$ 20,00 e R$30,00.

Venda de ingressos: sympla.com.br/brasainacabadomanifesto

*Parte do valor dos ingressos será destinado à Casa Florescer – Centro de Acolhida Especial para Travestis e Mulheres Transexuais

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